1933
Era outono, quando encontrei o amor de minha vida, na época eu tinha meus dezoito anos, apenas um garoto.
Em um fim de tarde, estava andando com meus colegas, nos estávamos indo para a sorveteria, que na época era o ponto de encontro dos meninos, chegando lá, a primeira coisa que vi, foi a garçonete...
Seus cabelos eram ruivos, estavam preso em um coque, com seus cabelos presos eu conseguia ver seu rosto inteiro, seu olhos pretos, sua boca estava pintada de vermelho, ela me olhou, seus olhos arregalados, naquele momento eu pude ouvir seu coração bater mais rápido, e fiquei com medo dela ouvir o meu também...
Eu desviei o olhar, e fui ao banheiro, olhei-me no espelho e arrumei meu cabelo, arrumei minha blusa e fui sentar, antes de me sentar, olhei nos olhos da garçonete, e me sentei, na hora que me sentei ela veio nos atender, ela anotou todos os pedidos, e quando foi anotar o meu, não me olhou nos olhos e me perguntou com sua voz doce e suave o que eu queria, minha vontade era de pegar na mão dela e falar “ Eu quero é você!”, mas na época era desrespeito com a moça, então abaixei minha cabeça e pedi, ela anotou e saiu, só quando ela saiu eu pude levantar minha cabeça.
Estava sentindo meu rosto queimar, logo percebi que estava vermelho, meus colegas começaram a fazer brincadeiras com isso, e novamente fiquei vermelho, as brincadeiras só pararam quando a garçonete chegou com os pedidos, quando ela entregou o meu, nossas mãos se encostaram, senti um calor dentro de mim, ela puxou sua mão rapidamente, e foi saindo, tomamos nosso sorvete, eu não parava de olhar para ela, e ela só me olhava nos cantos dos olhos..
Fiquei sentado na minha mesa até fechar a sorveteria, quando fechou ela veio em minha direção e pediu para eu me retirar que eles iam fechar, eu olhei em seus olhos, e vi de perto seu rosto, seus olhos tinham estrelas que brilhavam...
Ela estava diferente, com seus cabelos ruivos soltos, com as pontas viradas para cima, sua boca não estava mais pintada, seus olhos pareciam mais chamativos, eu convidei-a para sentar, ela olhou para os lados, e sentou, começamos a conversar, na conversa descobri seu nome, era Laurene, nome inglês, na conversa parecia que eramos amigos de infância, ela dava risada, e seu sorriso despertava algo que naquele momento não tinha despertado, nem percebemos a hora, o sol já tinha ido embora, ela olhou no relógio, e se levantou, segurei em sua mão, sua mão era quente, macia, eu me levantei e me convidei para leva-la embora, na época isso era romântico e cavalheirismo coisa que não existe mais, ela aceitou, esperei ela apagar as luzes e fechar a porta do comércio, e assim fomos embora conversando, dando risadas, e as vezes algumas pausas torturantes...
Quando chegamos na porta da casa dela, me deu um aperto no coração, minha vontade era de agarra-la e nunca mais a solta-la, ela me deu um beijo em meu rosto, fiquei sem reação, só sentia meu rosto queimar, sinal que já estava envergonhado, ela deu um sorriso no canto da boca, e se virou, quando ela virou meus músculos reagiram, segurei-a pelo braço, e a virei, ela me olhou nos olhos, seus olhos brilhando, puxei-a para mais perto e a beijei, passei minha mão em sua cintura, ela aceitou, percebi que ela também queria aquele beijo, abracei-a, e quando olhei no seus olhos, vi uma felicidade imensa, e sabia que nos meus olhos também havia, ela virou as costas, e abriu a porta, e pela sombra da janela a vi saltitando, meu coração estava acelerado, meu pensamento passava a cena do nosso beijo, eu corri pela rua, gritando, e pulando de felicidade...
No outro dia, eu precisava vê-la, precisava toca-la, e perceber que não era só um sonho, logo depois do almoço, fui correndo para a sorveteria, e pela janela eu vi seus cabelos ruivos presos, entrei na sorveteria, e me sentei no balcão, ela ainda não tinha percebido minha presença, quando ela virou para o balcão para me atender,levou um susto, eu olhei para ela, seus olhos se arregalaram, ela abaixou a cabeça e me atendeu, eu não consegui dizer nada, eu estava pensando que ela não havia gostado do meu beijo, já que aquele foi meu primeiro, e novamente esperei fechar a sorveteria, ela veio até mim e me pediu desculpa por não ter dado atenção é que aquele lugar era o local de trabalho dela, eu não havia pensado nisso, o que eu havia pensado era nela, e em ver-la,peguei em sua mão e fomos para sua casa, e isso tudo se repetiu por várias e várias vezes,passou um ano, até que um dia eu convidei-a para almoçar em minha casa, com meus pais, ela aceitou...
Estávamos em Julho, ambos de férias, peguei-a em sua casa, antes do sol se por, levei-a para minha casa, onde ela foi bem recebida, enquanto meu pai contava pela décima vez como conquistou minha mãe, eu pedi a palavra, me levantei e fiquei de joelhos na frente de Laurene, e tirei do bolso de minha calça uma caixinha, seus olhos se encheram de lágrimas, minha mãe segurou a mão de meu pai, eu perguntei se ela queria se casar comigo, ela me abraçou e me beijou, ela havia aceitado...
Mais um ano se passou, estavámos casados e morando em uma pequena casa...
Os meses foram se passando, e a Laurene estava ficando cada dia mais estranha, passava horas trancada no banheiro, estava distante de mim...
Em um dia chuvoso fui buscar-la na sorveteria, como todos os dias, quando cheguei lá, havia uma faixa enorme preta na frente, e a porta estava fechada, desesperado, fui correndo na casa da amiga dela Marta, ela abriu a porta olhou nos meus olhos, seu olhar era vago, não tinha brilho, parecia um quadro negro, me convidou para entrar, e quando eu vi Laurene deitada, pálida, no sofá de Marta, meu coração quase parou, corri em sua direção, peguei em sua mão, que não era mais quente, estava gelada, gritei desesperado para Marta ligar para algum médico, depois de uns dois minutos o Dr. Carlos, estava examinando-a, ele abaixava a cabeça passava a mão em seu cabelo, depois de uns quatro minutos, o Dr veio em minha direção, colocou sua mão em meu ombro, pediu para me sentar, naquele momento tive a sensação que Laurene não ia superar, ele me falou que Laurene tinha uma doença que na época não havia cura, meus olhos se enxeram de lágrimas, minhas mãos tremiam, meu coração pulsava cada vez mais rápido, corri em direção de Laurene, abracei-a, beijei seus lábios, quando olhei seu rosto, eu não pude acreditar, a mulher de meus sonhos estava morta..Morta em meus braços, seus olhos não tinham mais brilho, seu rosto estava pálido, sua pele estava branca, não estava mais sentindo nada, senti uma dor no peito horrível, tive que gritar para a dor de meu peito sair.
No outro dia, não queria levantar, não queria vê-la dormindo em paz, não queria dizer o adeus, tive que ir, não era justo com ela que passou a vida dela ao meu lado para eu não lhe agradecer, chegando lá, já não me sentindo bem, sentei-me do lado dela, as pessoas ao meu redor me consolando, mas nada daquilo adiantava, para mim o que iria me fazer bem era ela...Minha mãe me abraçou e me levou longe, eu só vi as pessoas levando-a de mim, ela era tão jovem tinha seus vinte e quatro anos, não fazia sentido ela ter ido naquele momento, quase todos haviam ido embora, só estava eu e Marta, eu me sentei no gramado, e chorava igual uma criança, Marta pegou em meu braço e me levou para casa...
No dia seguinte não fazia sentido eu acordar, para que eu ia acordar ? Se eu não teria ninguém para dizer bom dia, para abraçar, para dizer te amo, Marta me acordou, e começou a encaixotar as coisas de Laurene, eu chorava e dava risada contando as coisas que a gente vez, a cada lugar que andamos, cada palavra que ela havia me dito, mas uma coisa eu pedi para Marta não guarda, era seu uniforme de garçonete...
Se passaram anos, eu ainda sinto falta dela, mesmo passado vinte dois anos, eu ainda vou para o cemitério, e fico horas sentado na frente do tumulo dela, chorando e lembrando dos bons momentos, e quando passo pela sorveteria, eu sinto uma sensação horrível, parece que dentro de mim está vazio...
Quando pego o uniforme dela, sinto que ela está por perto....E sei que ela está, me protegendo, me guiando e me ajudando!
Depois de sete anos John se matou, e em suas mãos tinha um bilhete e na outra o uniforme, no bilhete estava escrito “ Laurene me chamou !”.